pyr152 joão pedro viegas and paulo chagas – the legendary story of a slug and a beetle

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Conspire
All that respires
Conspires
(Paulo Leminski)

Conspire
In my opinion, naming a work of art is invariably an act that belongs to the reasoning of poetics, as words tend to reorganize or even create the surrounding world. That being said, the suggestive name of the album,
The Legendary Story of a Slug and a Beetle, by blowers João Pedro Viegas and Paulo Chagas, conspires in the sense that these pieces should dwell in a place permeated by literary elements; short stories, with equally suggestive titles, built upon the dialogue of these two singular musicians of the Portuguese experimental scene.

Both play the soprano clarinet with João Pedro Viegas doubling on bass clarinet and Paulo Chagas on flute, oboe and sopranino clarinet. Both are also members of the fruitful Wind Trio and here we can listen to the same conciseness in the begetting and development of musical ideas.

In the case of this album, the duo explores the limits of their extended technique, using their instruments as sound sources, without losing clarity, sense of humour and, finally, without falling into the temptation of a meaningless exploration of the proposed elements. These are improvised miniatures, replenish with suggestive imagery, which brings them close to the form of the Japanese haikai poems.

Respire
In
The Five Senses: A Philosophy of Mingled Bodies, the French philosopher Michel Serres imagines the existence of a place in the body, almost a pinpoint, through which ones innermost transits to the surface that is in contact with the enveloping world. This is the place that he calls the soul. In his conception, the soul dwells in that space where the self makes its decisions; the soul shifts and displaces itself with each action, with each touch. If the musician has complete dominium over his hands and mouth, whilst playing his instrument, what can one say of the air which is expelled from the lungs to blow on the tube that releases the sound?

Ones breath handles the internal senses and is a vehicle permitting the soul to passage from the inner to the outer body, such as air shifts within the human respiratory tract. Perhaps that handling becomes more perceptible when one becomes ill; when breathing itself hurts. That very same puff of air carries a piece of each musician into the tube, which in turn converts him into the music itself.

Conspire
The Legendary Story of a Slug and a Beetle, which could also have been named Divertimenti for Two Tuvan Warriors (known for their throat singing), is an instigating work that begs careful listening. At times, it is hard to conceive how they managed to arrive at a certain points having come from elsewhere in the improvisation. Nonetheless, it is true that they retouch those contrasting elements with certain naturalness, conferring a sense of proximity. When I use the term certain naturalness it is because both possess a true reserve of improvised situations, acquired throughout their many gigs, concerts with various musician formations and, above all, established in the sense of a path in life, composed of choices and musical affinities.

These two musicians, shrewdly reactive, impregnate the music they generate with that invisible and inexpressible code that creates the interpersonal amalgamations of improvised music. Many times, there is a contrasting relationship (not to be confused with opposition) between both; two sonorous singularities that blend into a relational improvisation. Much more than that, they create a dialogue. They merge within the difference of each given multiphonic, screech, textural note, grunt, frullato or salivation. – Marco Scarassatti

joão pedro viegas – soprano and bass clarinets
paulo chagas – flute, oboe and sopranino clarinet

recorded by emídio buchinho on november 30, 2011 at ipa (instituto superior áutonomo de estudos politécnicos, with the students of sound design graduation.
mixed and mastered by emídio buchinho between september 2012 and march 2013 at toltech sound system and ñ-linear studio, with the advice of fernando cruz.
produced by joão pedro viegas and paulo chagas
original drawings by carlos “zíngaro”
cover design by daniela chagas

joão pedro viegas on pyr
paulo chagas on pyr

tracklist
01. soft malicious 02. discussing class differences 03. congenital indecision 04. the beginning of a great friendship 05. blasphemy 06. discussion 07. safardana 08. mitigation of the conflicts 09. a beautiful blanket of slugs and beetles 10. convergence 11. circumlocution 12. composition for improbable lovers 13. pink pussy 14. happy end – rejoicing

versão português

Confira
Tudo que respira,
Conspira

(Paulo Leminski)

Conspira
Penso que dar nome a um trabalho é sempre ato que se insere na poética do pensamento, pois a palavra cria ou reorganiza o mundo ao seu redor. Dito isso, o sugestivo nome do álbum The legendary story of a slug and a beetle, dos sopradores João Pedro Viegas e Paulo Chagas, conspira para que a escuta deste álbum habite um lugar permeado de elementos literários. Histórias curtas, com títulos igualmente sugestivos, construídas no diálogo entre esses dois singulares músicos da cena do experimentalismo português.

João Pedro Viegas e Paulo Chagas se alternam entre os clarinetes soprano e baixo, no caso de Viegas e flautas, oboé e clarinete sopranino, no caso de Chagas. Ambos integram outro igualmente profícuo projeto, o Wind Trio, e podemos escutar aqui a mesma concisão no desenvolvimento e engendramento das ideias musicais.

No caso deste album, o duo explora os limites extensivos dos instrumentos, tomando-os como fontes sonoras, sem perder a clareza, o humor e sem cair na exploração vazia dos elementos propostos. São miniaturas improvisadas e sugestivamente imagéticas, o que os aproxima também dos haikais.

Respira
Michel Serres, em os Cinco sentidos, a filosofia dos corpos misturados pensa na existência de um lugar do corpo, um quase ponto, em que o eu faz a passagem da face interior à superfície de contato com o mundo. A esse lugar ele dá o nome de alma. Para ele, «a alma habita um quase-ponto onde o eu se decide», ela se desloca e se transfere a cada ação, a cada toque. Se o músico está inteiro em suas mãos e em sua boca enquanto toca o instrumento, o que dizer do ar que dos pulmões sai para soprar o tubo e dele se desprender em sons?

A respiração, como um deslocamento do ar dentro das vias aéreas, tateia os sentidos internos e é o veículo de passagem da ânima do intra-corpo para o extra-corpo. Esse tatear talvez fique mais perceptível quando estamos enfermos. Respirar, muitas vezes dói. E o sopro carrega um pouco de cada um desses músicos para dentro do tubo e para, através dele, virar música.

Confira
The legendary story of a slug and a beetle, que também poderia ter o nome de Divertimentos para dois Guerreiros de Tuvan, é um instigante trabalho para uma escuta atenta. Por vezes é difícil saber como eles chegam de alguns pontos a outros no transcorrer da improvisação. Certo é que eles dão um jeito nisso e emendam com certa naturalidade elementos contrastantes que acabam por soar como próximos. Quando digo certa naturalidade é porque ambos possuem um verdadeiro banco de situações de improvisação, conquistados nas muitas gigs, concertos em diferentes formações e, sobretudo, formações no sentido dos trajetos de vida, escolhas e afinidades musicais.

Esse dois músicos inteligentes e, perspicavelmente reactivos, impregnam a música que fazem desse código invisível e indizível que cria as amálgamas interpessoais da música improvisada. Há uma relação muitas vezes de contraste (e não oposição) entre os dois. Duas singularidades sonoras, que se fundem numa improvisação relacional, mais que isso, dialogal. E se fundem na diferença e na complexidade de cada multifônico, guincho, notas texturais, grunhidos, frulatos e salivações dados. – Marco Scarassatti

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